Foto: Ana Reveilleau
Aí que o Poranduba teve a mãnha de realizar a sexta edição do Dezembro Independente. Sumêmo, truta, sexta edição! Definitivamente, não é pra qualquer um. E dessa vez foi ainda mais loco. Rock, MPB, Jazz, Hip Hop, Teatro, Pipoca, Pastel, Cachorro Quente, Varal Literário, som do Fernando Lalli e a volta do Motocontínuo e da Maquiladora. Histórico, baby!
Também teve selfie pra todo gosto, gente indo, vindo, se reencontrando e gente se conhecendo. Tipo nóiz, que cada vez encontramos nego de miliano e acabamos conhecendo ainda mais gente que tá no mesmo corre. Saca lá no final do diário as fotos da rapaziada.
Teve uma hora, depois de trocar ideia com o Gumer e com o Rafão, que ficamo ali brizando sobre o festival e a importância e necessidade de existir algo assim.
Se liga, ali no festival não estavam artistas marginais, estavam artistas marginalizados. E isso é bem diferente. Gente que não merece um olhar sequer da sociedade do entretenimento. Essa sociedade não gosta de conviver e nem de admitir a existência dos “perdedores”. O tanto de livro de autoajuda que trata a perda como algo meio doentio, uma derrota pessoal, é prova disso. Onde já se viu, você tem que ganhar! É competição! Supere o seu adversário! É condição se adaptar!
Ó que doido, especificamente no caso da América Latina, a servidão vem de longe. Começou com ouro, depois a prata, o açúcar, borracha, café… petróleo. Essa nossa obstinada rotina de desgraça. Passados mais de 500 anos, ainda são as mesmas mãos segurando as rédeas. E hoje, essas mãos querem formar consumidores ao invés de cidadãos. E bota a cultura nesse balaio também, claro.
Da mesma forma que tem gente especialista em ganhar, tem gente especialista em perder. E a gente, eterno serviçal do primeiro mundo e dos “homens bons”, historicamente somos especialistas em perder.
Você tem que ser espectador, não participante.
Enfim, não é que fazer sucesso e ganhar o seu dinheiro dessa forma seja ruim, faça de você um vendido blá blá blá. Longe disso. Todo mundo tem suas contas pra pagar e, a não ser que você tenha um Paitrocínio forte, ninguém vai te ajudar em porraninhuma.
Só que a lógica de mercado – neoliberal e baseado na cultura americana do sucesso – enfia na sua goela que só os que vivem do dinheiro e da opulência são os ganhadores. E os que estão fora disso, obviamente, são os perdedores.
Mas até a gente que tem uma inteligência mediana sabe que essa é uma visão muito simplista da situação. Até porque, viver diariamente do seu trampo e tocar seus projetos (música, pintura, teatro, malabares etc.) não diminui a qualidade artística de ninguém. Hoje em dia, é cada vez maior o número de pessoas que trabalham em empregos normais e tem o seu projeto paralelo. Uma vez demos até essa entrevista – aqui ó – onde falamos disso. E veja só, saiu uma matéria dia desses sobre umas bandas inglesas falando justamente disso. Aqui ó.
Bem, a gente já dizia que Londres tá uma merda…
Mas então, a triste notícia é que se você quiser seguir todo o modus operandi e as regras de mercado, infelizmente, não há solução. Isso pelo simples fato de que não se tem o menor interesse em mudar o atual cenário.
Click, Cleck, Bum! Perdeu!
No caso de quem produz e faz arte, o jeito é correr atrás. Veja o que o rap e funk estão criando. Larga esse preconceito e entenda o que esses caras tão fazendo com a cabeça da molecada. Tá, tem coisa zuada, mas ao mesmo tempo tem coisa muito boa. Como no próprio rock, porque não? Quem disse que só o baixo, guitarra, bateria e uma voz é que tá certo? “… Emancipate yourselves from mental slavery…” tipo isso…
Onde reinam as máquinas, o sistema vomita homens cinza. Então, conhecer as ações e pessoas do Poranduba e outros coletivos por esse mundaréu nos faz sentir enraizados. E isso dá uma força que vou te dizer…
Tá, as ideias de mudar as coisas podem parecer irrelevantes. E podem sim ser verdadeiramente irrelevantes e não valer porra nenhuma. Mas se o cara não tiver o culhão de tentar, e se pá arrastar algumas pessoas junto, aí não vale a pena mesmo.
Porra, como não se emocionar com o maluco do Rap, que ao chegar na produção do evento e os caras perguntarem pra ele: “cara, o que você precisa pro teu som e tals?”, ai ele vira e diz: “mano, meu som tá aqui no celular. Tem como plugar ele?” (!?)
E o palco foi só o cara, um celular e ele mandando as rimas e todo mundo parado ouvindo. 20 a 30 pessoas paradas ouvindo. Pouca gente? Foda-se, é assim que a coisa funciona. E agora, como o Deus-Mercado lida com uma coisa dessa? É zica, nénão?
E aí teve intervenção teatral. Legal e emocionante bacarái.
A Cia Vagabunda de Teatro encenou “Café da manhã dos campeões em tudo”, que está na peça Natureza morta e que vai estrear em junho de 2015. Texto do nosso querido Pepe (vulgo Petterson Queiroz) e direção do Fernandes Jr. Um café da manhã patético, triste e sofrido. Que transmite mais pelos olhos do que com gestos. Foi loco, rapaziada. Bravo! Se liga aqui nas fotos. Café da manhã dos campeões em tudo. É disso que tâmo falando, saca? Os campeões e os perdedores.
A festa fechou com um showzaço de rap do Nível de Cima. De responsa. Se liga nesse vídeo deles em outro festival.
E isso tudo foi no sábado. No domingo ainda teve muito mais.
Ó, cada vez mais gente talentosa fica pelo caminho. Por isso, larga as teorias de lado, foca no teu trampo, relaxa e curte a viagem. Até porque, no final de tudo, é só isso que importa.
Claro, lembre sempre que o terrorismo poético também é uma boa saída. Você pode sequestrar um dono de galeria de arte, fazer uma fogueira e queimar a lista de livros mais vendidos da Veja, boicotar as editoras cristãs… enfim, enfrentar toda e qualquer instituição que usa a arte para diminuir nossa consciência e lucrar com a ilusão.
E de novo, saiba que isso pode não significar nada.
Mas já é alguma coisa.
E assim, de festival em festival, há quase 10 anos, segue o Poranduba botando dinamite na cabeça do século…
Pow!
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E agora a galera cobrindo o festival. Se liga:
Fotos do Michel Meyson – Aqui!
Fotos do Gunter – aqui!
Foto do Boe – Aqui!
Foto da Gláucia – Aqui!
Fotos da Ana – Aqui!
Então me diga você que sabe datilografia.. foi daóra, né?