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É da hora a vida.

Aí você já tá achando que não tem mais jeito, que o Criolo em turnê com a Ivete Sangalo faz todo sentido e que a indústria dos festivais tipo Lolapaloser, com pegada sustentável e patrocínio de montadora de carro (!?) é que tá certa.

Tem horas que você até chega a concordar com o fato de fazerem pesquisa de mercado na hora de escolher quais bandas irão tocar e, sabe-se lá porque – sem lembrar que está pagando 400, 500, 600 paus – você embarca nessa onda e nem se liga que a originalidade, criatividade e até a rebelião, estão indo pro saco.

Aí de repente você percebe que anda só escutando música de suicidados, ou de gente morta ou de quem não está mais na ativa. E você senta e fica esperando o fim.

Aí se liga que Gahndi, aquele cara que andava descalço e que pregava o desapego e não consumia porra nenhuma virou anúncio de tecnologia e ajuda a vender computador da Apple.

A felicidade é uma palavra registrada pela Nestle. A felicidade pertence a Nestle. Réza a lenda que a Pepsi já quis até patentear a cor azul. Nike, Gucci e GAP estão nos cantos mais longínquos do planeta e torcem para que a capital do mundo seja Miami.

E você se vê caindo na arapuca.

E pela primeira vez na história, a única coisa que une os humanos é a vontade de acumular dinheiro para parecer eternamente como um anúncio de revista.

Mais de dois mil anos de história para chegar a isso.

E aí lembra que o REM já cantava “este é o fim do mundo e eu me sinto bem” e você, que é um grande filhodaputa, prefere ir a nocaute e sair carregado de maca do que entregar os pontos.

As vezes até que dá certo.

Tipo o que rolou no show no Zapata neste último sábado.

Começa que chegamos lá e ficamo surpreso com o tanto de gente que tinha do lado de fora. “Confere o endereço aí Diórge, acho que não é aqui não meu!”. E era.

Os moleque nos receberam tão bem que ficamo até sem graça. E aí, papo vai papo vem, a gente descobre que alguns das bandas dali estavam no show que fizemos lá no século passado no antigo Cafeíne, na Augusta. Que nos acompanham pela interné, sabem dos shows, das tretas, e até cita um fato aqui e outro ali dos diários de bordo. Vai vendo… Poisé malandro, durma com um barulho desses.

E a coisa ficou mais séria quando você vê os moleque no palco.

O Chabad, de Itapecerica da Serra, que abriu a noite, flerta com o At the Drive in, hardcore, mete um Mars Volta, joga um pop e o vocal ainda manda uns soco no baixo que lembra muito aquela fúria do Jair nos shows do Ludovic. Coisa linda. Ouça aqui!

Depos teve o Vapor – da zona lesta de São Paulo – que mandou um lance de peso e com uns arranjo de tirar o chapéu. “Tédio de Caos” é bonita que só: “Que chova, que molhe, que fale, que chore, que cale, que esqueça, que queira, que peça, que ouse, que seja!”. Ao vivo ficou foda. Ouça aqui!

Aí vieram os ingleses do Novonada. Direto de Londres pra tocar aqui do lado do Anhangabaú. Rock de responsa, baterista fudido, Helmet na veia e salve em portunhol e tals. Puta som (mas Londres não tava uma merda?). Ouça os caras aqui!

Aí você via as banda tocando e ficava tipo aquele cena no filme do CBGB que o cara tá sentado e fica analisando enquanto o Talking Heads toca: “Hum.. não sei.. tem coisa aí.”. A cada show foi tipo isso.

Depois fechamos a festa.

Era umas 3 e pouco da madruga e rolou teste de música nova e até pedido de “toca mais! ainda tá cedo!”. Cedo!?

Quando acabamos rolou foto oficial da festa e troca de ideia firmeza com o cara do Zapata, que contou que eles fizeram tudo ali na raça – quebraram parede, pregaram porta, subiram palco, fizeram bar, puxaram cabo, luz etc.

Aí ficamos ouvindo Galinha Preta e berrando: VAI TRABALHAR! VAI TRABALHAR! VAI TRABALHAR, VAGABUNDO!

E veja só como é a vida. Mesmo que a felicidade seja da Nestle, ter um momento bacana, que seja as 3 e tanto da madrugada, esgoelando um microfone, estourando um amplificador e sem um puto no bolso, pode até te fazer um cara mais feliz.

Pow!

VAI TRABALHAR! VAI TRABALHAR! VAI TRABALHAR, VAGABUUNNDOOO!