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A Marcela está morando em Londres, escreve pro Calliopemag e fez essa entrevista com a gente. Para ler em inglês, clique aqui. E pra ler em português, veja aí abaixo. Entrevista pra terra da rainha: meodeos, onde isso vai parar!
Como vocês se conheceram? Como surgiu a idéia de formar a banda?
O Linari e o Jorge se conhecem desde o colégio. Tocavam numa banda que fazia covers de Smiths, Husker Du, New Model Army, rock nacional, essas coisas. Daí a banda se desfez, e os dois resolveram montar o La Carne. Aí chamaram um baterista conhecido deles, e ele me levou junto, pra tocar o baixo. A gente tinha feito um som uma vez e ele me chamou. Anos depois, o baterista foi embora e eu fiquei. O Zé chegou depois. Já nos conhecíamos de shows com a outra banda dele – o Seamus, de Taubaté. E aí, quando precisamos de um batéra e soubemos que o Zé tava livre, apontamos um revolver pra ele e o convidamos pra tocar com a gente. E ele acabou topando. Em resumo, foi isso.
Vocês estão na ativa há aproximadamente vinte anos, sempre dentro do cenário alternativo underground. Já houve interesse de vocês em assinar com uma grande gravadora? Como vocês enxergam o mercado fonográfico mainstream atual?
Quando lançamos nosso primeiro álbum (1995), até queríamos o apoio de algum selo. Mas eles não apareceram. Na época, fazíamos muitos shows pelo underground, participamos de programas de TV (como o lendário MUSIKAOS), programas de rádio, e até algumas notas de elogio na imprensa escrita (ShowBizz, Trip, Zona Punk, etc). Mas nenhuma gravadora demonstrou interesse por nós. E, pra falar a verdade, a gente também não correu muito atrás delas, não. You know… essas coisas de “autopromoção” nunca fizeram parte do nosso jogo, quer dizer, nunca tivemos muita paciência pra ficar bajulando o “hype Circus” do rock brasileiro. Sei lá…, talvez seja uma questão de falta de talento, de vocação, esperteza, temperamento…não sei ao certo. Há pouco tempo, um jornalista famoso daqui escreveu um livro de nome engraçado (“O Dia em que o rock morreu”), onde ele defende uma ideia interessante: para ele, artistas que não aspiram o “megaestrelato”, ou mesmo que não se esforçam para se tornarem um sucesso de vendas, não passam de pessoas esnobes, elitistas e, portanto, suas obras são desinteressantes por definição. Enfim, esse é o tipo de imprensa musical que temos por aqui. E ó, desconfio que a maioria das pessoas que escrevem sobre rock no Brasil, pensam de modo semelhante. Acho meio ridículo isso. “Não escrevo sobre bandas com menos de 5.000 acessos na internet”. Pô, como assim? É um raciocínio típico de Bolsas de Valores! Em resumo: por isso, nós pulamos fora. Vivemos num mundo diferente do Mainstream.
Individualmente, quais as referências musicais de cada um? O que vocês escutam atualmente?
Zé: TV on The Radio, Hot Walter Music, Led Zeppelin, Avail e por aí vai.
Jorge: Comecei a ouvir punk na adolescência e depois me perdi nos sons das bandas e artistas do pós-punk e experimentais dos anos 80 (estrangeiras e brasileiras). Atualmente, as bandas com guitarra são as que me chamam mais a atenção.
Carlos: Black Music, Rap, Punk, Afghan Whigs etc. Atualmente, no metrô e no trem o som que tá comigo é Hierofante Púrpura, Manu Chao e o Sabotage.
Linari: Eu ouço de tudo um pouco. Depende do dia. Agora, por exemplo, estou ouvindo “Matamoros”, do Afghan Whigs.
O Brasil está passando por uma fase de questionamentos políticos bastante intensa. Vocês se consideram uma banda politizada? Qual a relação entre política e música e qual a importância de se manter essa relação?
Quando estamos juntos – bebendo num bar, ensaiando no estúdio, ou viajando pra tocar, falamos sobre todos os assuntos. Inclusive sobre política. Mas não sei se só isso basta para afirmar que somos uma banda “politizada”. Acho que, só pelo fato de estarmos na estrada há tanto tempo juntos, enfrentando todas as dificuldades, encarando tantos obstáculos, e ainda assim, conseguirmos manter a mesma inquietude criativa do início, de manter intacto nosso amor pela arte…bem, acho que isso já é uma atitude política de nossa parte, principalmente num país como o Brasil. Aliás, esses questionamentos políticos a que você se refere não estão acontecendo só no Brasil: é um fenômeno mundial, as pessoas estão cada vez mais dispostas a lutar por seus direitos de cidadãos. Lutar contra o racismo, contra os fanatismos religiosos, a homofobia, a miséria, a violência contra as mulheres… e, principalmente, contra o avanço de líderes e partidos de extrema-direita, que é o que mais nos tem preocupado ultimamente aqui no Brasil.
O “Granada” saiu em 2008, cinco anos após o lançamento anterior. Há um intervalo parecido entre os lançamentos do primeiro e segundo álbum de vocês. A que se deve esse intervalo tão grande entre as gravações?
Esse hiato aconteceu porque estávamos tentando arranjar um baterista. Experimentamos uma bateria eletrônica, mas não deu certo – ela se demitiu, dizendo que não passávamos de um bando de canalhas velhos e filhos-da-puta. Depois, tentamos com dois bateristas de verdade, mas depois de um tempo eles também saíram – sob a mesma alegação. Hoje estamos com um grande baterista, o Zé Ronconi. E tenho certeza que com ele, seremos felizes para sempre. J Porque antes dele entrar, nós já o alertamos: “Zé, nós somos um bando de velhos canalhas e filhos-da-puta… quer tocar no La Carne?” E ele respondeu: “vocês não são nada perto de mim!”. E tem sido assim desde então.
Vocês trocaram de baterista algumas vezes. De que maneira isso afeta a banda? Como funciona um processo de substituição? Há algum tipo de precaução para manter a identidade da banda?
Ah, sobre isso de troca de bateras…acho que já tá respondido lá acima, né?
Para o Zé: como é entrar em uma banda que já possui uma bagagem extensa e um grande introsamento? Houve algum receio de sua parte ao aceitar esse convite? Como você se sentia no início e como se sente atualmente?
Todo mundo acha que um bicho de sete cabeças, mas na verdade foi uma coisa relativamente fácil. Como a banda já tem um entrosamento de quase 20 anos tocando junto, é só entrar na onda que dá tudo certo – ainda mais se tratando de uma banda que compõe num formato jam session. Ah, e outro detalhe que ajuda muito o baterista é o baixo. Enfim, quem já escutou La Carne sabe do que estou falando. Não houve nenhum receio da minha parte, pois como todo mundo sabe, eu curtia o som da banda antes mesmo de entrar no LC. Então, foi muito legal ser chamado e fazer parte de tudo isso. Digo “tudo isso” porque quem está no rolê tá ligado. No começo eu era um até um pouco travado, até porque não queria errar e tals, mas depois de 2 anos você relaxa, se solta mais e até leva uma com os meliante.
Para Jorge: uma das coisas que mais me impressiona na banda, é o fato de você não usar nenhum tipo de pedal ou distorção nas guitarras. Existe uma mensagem por trás dessa escolha?
Quando eu comecei a tocar em banda usava vários pedais. Depois de um tempo comecei a compor e o som dos rifes ficava embolado com os efeitos. Então fui deixando os pedais de lado naturalmente. Por enquanto não preciso de efeitos, mas se algum dia achar que algum barulho diferente ficará legal em alguma música, não terei problema em usar. Não sou contra e faço o possível para me manter atualizado nos que existem disponíveis. Por enquanto, pra mim é suficiente uma boa guitarra, um bom cabo e um bom amplificador… e um volume bem alto.
Quando sai o disco novo? Podem falar um pouco sobre o que encontraremos nele?
Agora em 2015 sai o nosso quinto rebento. Já estamos na mixagem, ajustes e tals. Temos um brother fazendo arte e estamos correndo atrás de prensagem etc. Quanto ao que encontrar nesse disco, é que nos anteriores estávamos insanos e apocalípticos, já nesse o som é mais caótico e devastador. J Basicamente isso.